Vértices de Esperança
VÉRTICES DE ESPERANÇA No solo cálido, a cal embalsama o lodo, Da crosta árida, emudecida de guerra, E o sol em júbilo, queima a lavra ao podo De forja insólita a incendiar a terra. Na pele rústica, o suor em prece irrompe, É lágrima esculpida em sal e labareda, O vento álacre traz o pó que o corrompe, Alma que exsurge sob a cruz e a vereda. A fome em riste desenha em vão seu traço, Em pratos órfãos do milagre prometido; Enquanto a chuva é quimera em falso abraço, O céu desdenha o clamor do desvalido. Cisternas viram espelhos de ilusão, Canais se perdem nas veias dos coronéis; A água está no cárcere da opressão, Irriga apenas os jardins dos seus papéis. Promessas ecoam no áspero Palácio, Mas são balidos no abismo do poder; Enquanto o homem vive à língua e no silêncio, Os grãos de ouro enriquecem o desprazer. A lua é lâmina que fende a noite seca, Revela em sombras os espectros da fome...