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Mostrando postagens de dezembro, 2024

HERÓIS DA ETERNIDADE

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    HERÓIS DA ETERNIDADE No chão da infância, cada passo, um traço, Que o pai desenha com suor e retidão; Seu dorso curva sob o peso do espaço, Leve é o fardo ao erguer nossa missão.   Na labuta da vida, a mão se finca, E, no suor, o sal que purifica; Em ventos ásperos, a tez lhe vinca, Forjando o pão na lida que edifica.   A mãe, vestal do amor e da esperança, Tecendo nossa casta em grã suplício, É plectro terno, cuja fé incansa, Embora a alma sangre em sacrifício.   Renúncias de uma força inexplicável, Cada vestígio é luz que não desfaz; Amor em gestos, alma imaculável, Um doce ninho, lócus de sua paz.   Meu fráter, lume que em meu curso aduz, Guardião entre os espinhos desta vida; Seu passo, em minha sombra, reluz, Farol vivo, lição jamais perdida.   Migrei com eles, como folha ao vento, Rasguei fronteiras de paragens ermas; De cada luta, um broto de sustento, Timão incólume em angra enferma....

CONTORNOS DO ETERNO

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  CONTORNOS DO ETERNO   Não há limites onde o riso existe, Há máscaras de névoa e de espinho; Caminho o átrio onde o verbo insiste, Mas meu eco é surdo, em vão pergaminho.   Sou nau que flutua em mar ignescente, Aportando em cais que logo se apaga; Cada semblante é âncora penitente, E a rota, linha que nunca propaga.   Leio o silêncio como um códice antigo, Onde a solidão empresta sua pluma; As letras falam, mas guardam o perigo De serem muralhas que o olhar luma.   Nas multidões, vago em pólen disperso, Flor que não enraíza ao chão prometido; Minha palavra, um mito controverso, Cativa a escuta, mas sangra em sentido.   Há um carinho que a costura vazia, Na linha tênue entre o todo e o perdido; É casa e exílio, bálsamo e agonia, É sombra acesa no olhar dividido.   No peito um relicário de mundos, Construídos de encontros que não são; Abismos que gritam, firmes, profundos, Mas seu eco oculta à contramão.   Amor? É brisa que afaga o intangível, ...

Vértices de Esperança

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  VÉRTICES DE ESPERANÇA   No solo cálido, a cal embalsama o lodo, Da crosta árida, emudecida de guerra, E o sol em júbilo, queima a lavra ao podo De forja insólita a incendiar a terra.   Na pele rústica, o suor em prece irrompe, É lágrima esculpida em sal e labareda, O vento álacre traz o pó que o corrompe, Alma que exsurge sob a cruz e a vereda.   A fome em riste desenha em vão seu traço, Em pratos órfãos do milagre prometido; Enquanto a chuva é quimera em falso abraço, O céu desdenha o clamor do desvalido.   Cisternas viram espelhos de ilusão, Canais se perdem nas veias dos coronéis; A água está no cárcere da opressão, Irriga apenas os jardins dos seus papéis.   Promessas ecoam no áspero Palácio, Mas são balidos no abismo do poder; Enquanto o homem vive à língua e no silêncio, Os grãos de ouro enriquecem o desprazer.   A lua é lâmina que fende a noite seca, Revela em sombras os espectros da fome...