CONTORNOS DO ETERNO


 

CONTORNOS DO ETERNO

 

Não há limites onde o riso existe,

Há máscaras de névoa e de espinho;

Caminho o átrio onde o verbo insiste,

Mas meu eco é surdo, em vão pergaminho.

 

Sou nau que flutua em mar ignescente,

Aportando em cais que logo se apaga;

Cada semblante é âncora penitente,

E a rota, linha que nunca propaga.

 

Leio o silêncio como um códice antigo,

Onde a solidão empresta sua pluma;

As letras falam, mas guardam o perigo

De serem muralhas que o olhar luma.

 

Nas multidões, vago em pólen disperso,

Flor que não enraíza ao chão prometido;

Minha palavra, um mito controverso,

Cativa a escuta, mas sangra em sentido.

 

Há um carinho que a costura vazia,

Na linha tênue entre o todo e o perdido;

É casa e exílio, bálsamo e agonia,

É sombra acesa no olhar dividido.

 

No peito um relicário de mundos,

Construídos de encontros que não são;

Abismos que gritam, firmes, profundos,

Mas seu eco oculta à contramão.

 

Amor? É brisa que afaga o intangível,

Um pássaro em voo por campo inerte;

Sua asa toca o impérvio sensível,

Mas nunca pousa no olhar que se perde.

 

No fim, as mortes vêm em intervalos,

Cortinas que se fecham às outras cenas;

A vida esculpe em mármore seus cavalos,

Mas deixa estribos soltos nas arenas.

 

Meu rosto sorri, co' a alma em sigilo,

Espelho côncavo a sisar o tempo;

Falo em rios, mas calo em som tranquilo,

Que aduz as margens no seu pensamento.

 

O vazio, enfim, é cântaro sem fundo,

Que bebo a nunca estar saciado;

Na solidão, encontro o que há no mundo,

Um tudo envolto em nada apaixonado.


Edson Depieri

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