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COR-DE-ROSA

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COR - DE - ROSA (cântico do amor)   COR claridade insubmissa, luz que se recusa a caber nas jaulas da sombra; é sopro divino; Cor — arco-íris que se ergue da ferida; paleta infinita que insiste em pintar a humanidade, com tons que não cabem no cinza das intolerâncias.   DE não é posse, é travessia. De ti, de mim, de nós, de cada gesto que ousou nascer contra o silêncio. De — preposição de afeto: de quem ama, de quem se oferece, de quem ousa existir.   ROSA não é ornamento, é cicatriz que floresce em beleza; lâmina feita de perfume; pássaro disfarçado de pétala; estrela caída em formato de flor. Rosa — verbo secreto: Roçar e revelar; afeto lapidado em cor.   pois todo amor perseguido acaba virando semente à espera de solo fértil.   cor — de — rosa ou rosa — de — cor ?   inverte-se a palavra, e o mundo se revela ao avesso: como se o arbítrio respeito se curvasse apenas diante do código.   cor — de — rosa é reverso da noite, rosa — de — cor é...

BEM-TE-VI, PALIMPSESTO DO ADEUS

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BEM-TE-VI , PALIMPSESTO DO ADEUS BEM primeira sílaba do universo, luz inaugural que aprendeu a dizer “sim”.   TE fio tênue entre quem ama e quem já é memória.   VI verbo do instante: vi-te subir além do alcance e o céu cravou em mim a tua cura de infinito.   Bem-te-vi ou será vi-te-bem? Nas costas do tempo, as duas frases cabem como asas sobrepostas: a que parte, a que permanece.   Be - resto de um beijo que o vento traduziu em pássaro. Bem-te - juramento soterrado na pausa de um canto. Bem-te-vi - epifania ao contrário: um som que volta vazio e, no vazio, engravida o silêncio de sentido.   se todo voo é pergunta, teu canto foi resposta que não sabia o nome das coisas, mas sabia amar.   bem na dobra secreta do mundo, ainda é manhã   te teço contigo um ninho de lembranças   vi vejo-me inteiro só quando ecoa o teu trinado   bem.te.vi tríplice pulso que reli...

REENCONTRO

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REENCONTRO   No silêncio das alvoras, Nas corolas sonhadoras, Nas saudades vultuosas, Veio a luz dum tempo vão. Era ele, o peregrino, Feito espinho em velho hino, Que de guerras fez destino E esqueceu do próprio chão.   Sob a bruma que cintila Qual memória que vacila, Seu olhar no céu destila, A lembrança do que amou. Foram léguas de fadiga, Muitos sóis, nenhuma abriga, Mas no peito a mesma antiga Paz que um dia ela lhe doou.   Ela, em véus de claridade, Velou séculos de saudade, Tecelã de eternidade, Nos umbrais do firmamento. Prescindindo sua aurora, Na esperança que não chora, Viu por eras, hora a hora, O seu vulto em sofrimento.   Do celeste véu descia, Com o brilho que envolvia Toda a dor que não morria Nos caminhos do querer. Ela vinha, estrela exausta, Sobre a sombra fria e falsa, Para erguer a chama alta Do que nunca quis morrer.   Ele errante, alma em luto, Como o som dum canto bruto Degustava o mesmo fruto Nas campinas do pesar. Cada escolha, cada pass...