QUANDO O AMOR PERMANECE
QUANDO O AMOR PERMANECE
Há coisas que o
tempo não consegue apagar.
Nem a morte, com
sua roupa de silêncio, ousa dissolver.
Porque há vozes
que continuam sussurrando,
não no ar, mas na
alma,
e as vezes gritam
no silêncio dos nossos corações.
São presenças sem
corpo,
mas que ainda
acendem luzes nos corredores do pensamento.
São mãos
invisíveis que tocam o ombro da lembrança,
e dizem, sem
dizer: “estou aqui”.
Há quem chame isso
de saudade.
Mas não é saudade,
é presença
em outro tom.
Como se o amor, ao
perder o corpo, ganhasse asas.
Como se o coração,
ao perder a voz, aprendesse a cantar em silêncio.
Tu olhas o vazio e
sentes algo mover-se dentro.
É o eco de quem te
amou, soprando ternura
pelas frestas do
universo.
É o perfume de uma
alma que não se despediu,
apenas mudou de
morada.
Não há separação
quando há amor.
O amor não conhece
a “passagem”, nem calendários,
porque nasceu
antes da carne e sobrevive depois do pó.
Ele é ponte entre
mundos,
fio dourado que
atravessa o abismo e não se rompe.
E quando choras,
ele escuta.
Quando sorris, ele
se alegra.
Quando te calas,
ele escreve dentro de ti
as palavras que
jamais morrerão.
Há uma ciência que
não se mede em previsões testáveis,
mas no instante em
que o peito aperta e a lágrima cai sem razão.
É a alma reconhecendo
outra alma,
mesmo sem olhos,
mesmo sem voz.
Quem amou
verdadeiramente
nunca partiu,
apenas se dispersou em partículas de luz.
E cada partícula
encontra um jeito
de voltar a quem
pertence.
Por isso, se um
dia sentires uma calma sem motivo,
um calor que vem
do nada,
um pensamento que
te guia com doçura,
não duvides.
É o amor, sim, é
“ele”
aquele mesmo, o
antigo, o infinito,
ainda tentando te
dizer
que a morte é
apenas o intervalo da vida.
E que, quando dois
corações vibram na mesma frequência,
nem o céu os
separa,
porque é nessa
vibração, feita de lembrança, ternura e eternidade,
que o próprio Deus
habita, e ele permite.
“Onde o Amor Reside”
Assim, pois,
digamos agora,
em verso, alma e
fervor,
onde é que dorme e
aflora
a morada do amor.
Não vive em carne
ou lembrança,
nem no toque que
se vai;
vive em luz, e na
esperança,
naquilo que nunca
cai.
É sopro que o
tempo enlaça,
mas que o tempo
não destrói;
é a rosa que mesmo
escassa
no inverno ainda
se dói.
É verbo antes da
fala,
eco antes da canção,
que o espírito
embala
na harmonia da
criação.
É chama de
eternidade,
que o vento jamais
venceu;
é dor feita
claridade,
é Deus que em nós
se acendeu.
Amor, é abismo e
ponte,
silêncio e clarão
de sol,
fonte que nasce no
monte
e deságua no
arrebol.
Não é posse nem
sentença,
nem jura, nem
condição;
é a mais pura
presença
vestida em
vibração.
É o verbo que se
faz flor,
o ser que se faz
sentido;
é a alma que em
seu ardor
cura o tempo e o
perdido.
No espaço, é
constelação;
no coração, é
altar;
nas lágrimas,
oração;
no sonho, é verbo
a pulsar.
Quando o corpo já
descansa
e a carne em pó se
refaz,
é o amor quem, na
lembrança,
nos renasce e nos
traz paz.
Assim, não há
despedida,
nem adeus, nem
fim, nem dor;
porque o amor é a
vida,
e a vida é feita
de amor.
“o Amor que Permanece”
Se o pranto te
irrompeu,
e o vento em teu
rosto passa;
não é ausência, sou
eu
que te afaga e te
abraça.
Sou o perfume que
exala
da terna e velada flor;
sou o lume que não
se cala,
mesmo após o sol
se pôr.
Sou harpa das
marés calmas,
sou sopro do
arrebol,
sou clarim das
tuas almas
ecoando em
girassol.
Não busques na
carne fria
a morada que
perdi;
me encontras na
melodia
dos versos que te
escrevi.
Em cada lágrima
pura,
renasço em gota e
luar;
sou essência que
perdura
onde ousas me
lembrar.
Sou brisa que abre
o véu
entre a Terra e o
Infinito,
estrela viva no
céu,
sou teu presságio
bendito.
Quando dormes, sou
guarida;
quando sonhas, sou
farol;
sou sombra na tua
lida,
sou tua face no
sol.
Sou memória
transmutada
em palavra e vibração;
sou centelha
iluminada
que acende teu
coração.
Não creias que a
morte é muro,
nem que o tempo é
prisão;
sou parte do amor
mais puro
que habita tua
emoção.
E um dia, quando o
ocaso
cerrar-te a íris
do olhar,
serei seu alado pégaso,
em meu colo a
sediar.
No reino que o
amor mora,
tudo é princípio e
florir;
lá, o adeus se
evapora,
e o reencontro há
de sorrir.
...
E assim, o amor, verbo
eterno,
percorre triste
distância,
faz-se aurora no
inverno,
e eterniza a
esperança.
“O Amor que se Reencontra ”
—
Então, o silêncio
finda
e o tempo enfim se
desfolha,
a alma, em luz que
não finda,
do pó a nova
abrolha.
Dois astros que se
procuram
no cosmo da
eternidade
rompem véus que se
depuram
em clarões de
suavidade.
Não há mais
sombra, nem pranto,
nem distância a
dissolver;
Um cântico em cada
encanto
a dizer: “tornei a
te ver”.
Os corpos já não
se tocam,
as essências se
entrelaçam,
como harpas que se
evocam
em notas que se
abraçam.
O amor, outrora
ferido,
ergue-se em verbo
solar;
é templo
reconstituído
onde os anjos vão
orar.
E na alvorada
celeste,
onde tudo é
comunhão,
as almas, como uma
prece,
tecem nova
criação.
O universo as
reconhece,
Deus suspira, o
éter ri,
e a saudade se
enobrece
na luz que diz:
“eu venci”.
A vida é só um
instante
entre dois a
venerar,
mas o amor, “o
diamante”,
jamais deixa de
brilhar.
Quando o vento lhe
trouxer
um perfume ao teu
jardim,
será o amor a
dizer:
“Nada termina em
mim.”
...
Assim se finda este cântico,
mas não o amor.
Porque o amor não
tem fim, tem ciclo.
E toda alma que
ama verdadeiramente,
sente o toque na
lembrança;
escuta o grito no
silêncio;
e é aquecido pelo
sussurro;
Então
aprendo que:
A
ausência no presente é, no futuro,
o
maior presente dos presentes;
Partir
é ficar no futuro de cada princípio,
e nessa passagem, apenas
mudamos do verbo:
viver para iluminar.

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